‘Prévia’ do PIB sugere desaceleração, mas economistas defendem que BC seja cauteloso
O IBC-Br, indicador de atividade calculado pelo BC e que é considerado uma espécie de prévia do PIB, mostrou em dezembro um já esperado quadro de desaquecimento da economia, mas num ano particularmente forte para o PIB. Os economistas acreditam que esse arrefecimento ajuda nas decisões de política monetária do Banco Central, mas continuam com um pé atrás na hora de revisar suas estimativas para a taxa Selic final do atual ciclo de alta, hoje em cerca de 15%.
Segundo o BC, o IBC-Br teve queda de 0,73% em dezembro, segundo dados dessazonalizados, uma retração mais forte do que o consenso de mercado, que era de -0,4%. Mas o crescimento em 2024 ficou em fortes 3,8%.
Rafael Perez, economista da Suno, comenta que o desempenho do IBC-Br em dezembro foi influenciado por uma queda generalizada nos diversos setores da economia, com destaque para o recuo no setor de serviços (-0,5%), no varejo (-0,1%) e na indústria (-0,3%).
Ele lembra que, em 2024 diversos fatores impulsionaram a atividade econômica, com destaque para a taxa de desemprego em mínimas históricas, aumento dos salários, melhores condições de acesso para o crédito e uma forte elevação dos benefícios sociais. Mas que, no último trimestre, já sinalizou para um esgotamento dos vetores que impulsionaram a atividade, diante de uma política fiscal e monetária mais restritivas.
Ele vê o PIB do primeiro trimestre de 2025 ainda com crescimento expressivo, impulsionado pela safra recorde de grãos, principalmente de soja, que concentra quase 60% de sua produção entre janeiro e março.
“No entanto, esse efeito positivo será temporário, e os setores mais cíclicos da economia, devem perder força ao longo do ano, à medida que a inflação elevada, o aperto das condições financeiras e a menor expansão fiscal limitam o ritmo da atividade. Por isso, para 2025, projetamos uma desaceleração do crescimento do PIB para 1,9%”, projeta.
A XP, por sua vez, comenta em relatório que a chamada proxy do PIB do Banco Central , de 3,8% em 2024, ficou bem acima das projeções iniciais, mas que sinais recentes sugerem uma atividade em enfraquecimento. “O indicador ficou estável no 4º trimestre em comparação com o 3º trimestre, encerrando uma sequência de quatro ganhos consecutivos na comparação trimestral”, diz o texto.
Além disso, na comparação dos meses de dezembro de 2023 com 2024, houve alta de 2,4%, bem abaixo das projeções da própria XP (0,32%) e do consenso de mercado (3,4%).
Segundo a XP, o efeito estatístico de carregamento para o IBC-Br do 1º trimestre de 2025 é de -0,4% em relação ao trimestre anterior (e de +0,3% para 2025). A estima estimativa preliminar para o indicador em janeiro é de 0,3% em relação ao mês anterior, e de 1% em relação ao ano anterior.
“Esperamos que o PIB aumente 2,0% em 2025, após uma expansão de 3,5% em 2024. A atividade interna provavelmente desacelerará ao longo do ano, em linha com a inflação mais alta, crescimento mais lento na renda disponível das famílias, condições financeiras mais apertadas e impulso fiscal reduzido. De acordo com nossas estimativas, a taxa média de crescimento em relação ao trimestre anterior diminuirá de 0,9% em 2024 para 0,2% em 2025.”
Na opinião de Tatiana Pinheiro, economista-chefe da Galapagos Capital, ainda é cedo para falar de efeito do aperto monetário na economia. Para influenciar o cenário do BC, essa queda terá que permanecer nos próximos dados, acredita. “Projetamos 100 bps de alta em março e fim de ciclo em maio com 75 bps, trazendo a Selic para 15%.”
Segundo Matheus Pizzani, da CM Capital, embora inferior à expectativa do mercado, o desempenho ruim na base mensal não foi necessariamente uma surpresa, após os indicadores setoriais do período calculados pelo IBGE, que já davam sinais de que seria um mês negativo em termos de atividade econômica, especialmente no caso do setor de serviços, que sofreu queda generalizada em todos os componentes que são base para o cálculo da PMS. Indústria e comércio também apresentaram resultados ruins ao longo do período.
Para o economistas, se do ponto de vista da atividade o ano de 2024 terminou com um ponto de interrogação acerca do quão intensa deve ser a desaceleração a ser enfrentada pelo país no atual ano, os resultados negativos na margem podem trazer alguma sinalização positiva para a política econômica.
“A queda do volume de vendas de bens e serviços prestados no último mês do ano pode marcar um processo de descompressão do hiato do produto [a diferença entre o PIB potencial e o efetivo], cujo desempenho recente foi uma das bases para a retomada do ciclo de alta de juros por parte do Banco Central”, destaca.
Pizzani diz que a expectativa agora recai sobre o quão extenso será este ciclo negativo do lado da oferta da economia, e se haverá uma piora efetiva nos indicadores que podem de fato impactar de alguma forma as decisões do Copom, sendo eles o setor de serviços e o mercado de trabalho. “Neste sentido, será ainda mais importante seguir acompanhando os resultados do IBC-Br, com atenção especial à possível composição de seus resultados”, afirma.
Ele explica que, caso a retomada do crescimento do indicador seja possibilitada por setores que tem pouca ou nenhuma relação com os ciclos econômicos — como no caso da indústria extrativa — a interpretação sobre o fechamento ou abertura do hiato do produto deverá ser completamente distinta daquela feita ao longo do ano passado, quando segmentos do comércio e serviços, que são efetivamente impactos pela dinâmica da política monetária, puxaram a alta do indicador.
Na análise do Banco Pine, o resultado de dezembro veio em linha com os indicadores de atividade da indústria, comércio e serviços, que têm desacelerado na margem. “Nossa estimativa preliminar é de crescimento entre 2,0% e 2,5% para o PIB em 2025, com desaceleração dos componentes cíclicos da atividade dado o aperto das condições financeiras e impulso fiscal negativo.”
Fonte: infomoney