Chuvas atrasam e impactam plantio de soja, café e milho
O atual período de seca e de calor não afeta apenas a saúde e o meio ambiente. Também trará impacto sobre alguns plantios dos cultivos de verão, em especial a soja, o milho e o feijão.
Segundo alerta da Climatempo, mesmo as chuvas previstas para o início da primavera não terão uma mudança imediata no clima. Ou seja, seguirá bastante seco e quente nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Bahia, Tocantins, Maranhão e Piauí. A exceção é a região Sul do país.
Com a estiagem prolongada, poderá acontecer o atraso no plantio. O solo está com uma umidade mínima para que os agricultores possam plantar. Independentemente da região, as consequências são as mesmas, diz o meteorologista coordenador do Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro/RS), Flavio Varone.
Plantios afetados
Café e laranja no Sudeste. No Sudeste do país, "a seca afeta a florada da laranja e traz manchas no grão do café", informa Dayane Nascimento Figueiredo, meteorologista da Climatempo. Segundo ela, a falta de chuvas também atrasará o plantio da soja, do milho safrinha e algodão na região Centro-Oeste.
Milho no Nordeste. Na fronteira agrícola da região chamada Matopiba (formado com as primeiras sílabas dos nomes dos estados do Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), as chuvas estão marcadas apenas para a primeira quinzena de novembro. "Por lá, o período muito seco e as altas temperaturas atrasarão o plantio do milho", diz ela.
Soja no Sul. Na região Sul, houve chuva nos últimos dias, mas a previsão é a de que os meses de novembro e dezembro sejam mais secos. Isso pode afetar o plantio da soja.
O problema do Rio Grande do Sul são as chuvas não recorrentes e muito localizadas, não distribuídas por toda a região. Não garantindo assim a manutenção da umidade do solo. "O ideal, seriam aquelas pancadas regulares que deixam um cheiro de terra", declara Dayane.
Na soja, secas durante o período em que a planta floresce causam reduções mais drásticas no rendimento de grãos."O ideal é que o agricultor espere as ótimas condições climáticas para obter uma boa semeadura e rendimento. Quanto mais forte a planta, maiores são as probabilidades de tolerar as condições adversas em fases mais críticas", reforça o pesquisador da Embrapa Soja, José Renato Bouças Farias.
No Rio Grande do Sul, é importante plantar em diferentes épocas de semeadura e adotar plantações de ciclos diferentes. "Podemos observar que todos os agricultores plantam o mesmo produto e na mesma época. Se algo der errado com perdas, acaba afetando a economia da região", diz.
Efeitos da La Niña
O fenômeno El Niño afetou o clima do segundo semestre do ano passado até o primeiro semestre deste ano. O resultado foi a diminuição de chuvas e seca extrema no Brasil central, além de chuvas intensas no Sul no fim do ano passado e em maio deste ano.
La Niña deve ser mais amena. "No futuro, mais precisamente em novembro e dezembro, a tendência é termos o fenômeno contrário graças à La Niña", informa o meteorologista coordenador do Sistema de Monitoramento e Alertas Agroclimáticos (Simagro/RS), Flavio Varone. Marcado pelo resfriamento das temperaturas no Oceano Pacífico, o fenômeno climático altera o volume de chuva em diferentes regiões. "O La Niña tende a melhorar a situação das chuvas no Centro-Norte e no Sudeste do Brasil", prevê Leandro Gilio, professor do Insper Agro.
Impacto do La Niña para a variação dos preços é menor que o do El Niño. Andréa Angelo, estrategista de inflação da Warren Investimentos, afirma que o fenômeno atual pode auxiliar nas plantações e até resultar em uma queda no preço dos grãos, a depender dos efeitos ainda imprevisíveis. "O que vai decidir mesmo se a alimentação ficará mais cara ou não é se vai chover para conseguir plantar a soja", avalia.
Milho com menor área plantada
O milho vem sofrendo as consequências do clima há algum tempo. A última safra teve uma queda de 16 milhões de toneladas em relação à produzida em 2022/23, em função dos impactos causados pelo fenômeno El Niño.
Produtores tiveram prejuízo. "Embora o volume produzido seja suficiente para abastecer o mercado interno e gerar excedentes de exportação, essa quebra de produção e os baixos preços do produto causaram severos prejuízos financeiros no lado de dentro da porteira", revela Daniel Guimarães, especialista em assuntos de clima/cultura do milho da Embrapa.
Os solos sofreram os impactos das altas temperaturas com a perda de matéria orgânica. "Mesmo com a possível ocorrência da La Niña, o produtor precisará de um esforço maior, pois ele terá menos condição de selecionar cultivos de diferentes ciclos de produção", complementa Daniel.
Fonte: economia.uol